Canta ReP
Por Pablo Tavares
Se tem uma
característica que os músicos do estilo gostam de exaltar, ela se chama união.
Sendo muitas vezes criminalizado pela sociedade, que vê o gênero como um
disseminador de um submundo que a própria população insiste em deixar
escondido, o rap, a cada dia que
passa, vem se renovando, na energia daqueles que se juntam para fazer o famoso
repente.
Pedro Henrique, o "Mikimba" |
Como já dizia
rapper paulista "Criolo", que se consagrou na última edição do Prêmio da Música Brasileira 2012, sendo
vencedor de três categorias, incluindo o de melhor cantor, "Cantar rap
nunca foi pra homem fraco". Esta é uma verdade que o cenário musical
insiste em manter como realidade. Se o Criolo venceu em um dos maiores prêmios
da música brasileira, a mesma sorte não chega a uma outra parte. Não vamos
compreende-los como coitados, mas sim como talentos que ainda não foram
descobertos.
Não sendo um
estilo que faça parte de trilha sonora de novelas, o rap sobrevive pela paixão
daqueles que vêem no estilo uma maneira de ter voz, fazendo com que assuntos
muitas vezes ignorados pelo povo sejam debatidos. Como um som que vem da rua,
ele leva como característica abordar temas centrais da sociedade, na maioria
das vezes com um olhar crítico. O cantor de rap não é somente um músico, mas
sim uma tentativa de ser herói, tentando ajustar tudo aquilo que está errado.
Se as
oportunidades no cenário musical não são grandes, que se faça pelas mãos
daqueles que mantém o estilo vivo. É com este objetivo que acontece, toda
segunda feira, na Praça da Cantareira, em Niterói, a "Roda de Rima".
Estando instalada em um dos locais mais conhecidos da cultura niteroiense, a
Cantareira, palco de diversas manifestações artísticas no decorrer dos anos, é
um ponto que une as mais diversas tribos que juntas mantém o ar alternativo do
local. Cercada por bares e casas onde acontecem festas de rock, eletrônico,
rap, samba e todos os outros estilos musicais e culturais, a localidade recebe
a Roda, juntando todo início de semana artistas que pretendem, juntos, consolidar
seus trabalhos.
Expressões culturais como malabares também fazem parte da roda |
"Comecei escrevendo poesias por volta dos 13
anos para descarregar tudo aquilo que me incomodava, como a maioria dos MC’s,
imagino. Desde pequeno ouvindo mais rap do que qualquer coisa, terminei,
naturalmente, indo para este lado. Freestyle, letras, mensagens em cima de
batidas, resumindo: ReP (Ritmo & Poesia), onde vi que a minha voz tinha
mais força e onde encontrei quem quisesse ouvir o que tenho a dizer.
Também encontrei muitos aliados que estavam na mesma
luta. Fui convidado para participar do grupo de rap Rua22, onde comecei a levar
minha arte mais a sério, idealizando-a como uma possível profissão. Por alguns
motivos, terminei saindo e seguindo uma carreira solo. Foi nesse meio tempo que
me juntei a ao grande músico e querido amigo, Rafael Lira, com quem onde
mesclávamos minha essência rap com a musicalidade dele. Foi daí que surgiu o
"Relevância", projeto que estou levando adiante com o Rafael, em
paralelo com outros que estão concretizando aos poucos."
Quadro feito por Ian Medella |
Apesar de ser uma
novidade que atrai os olhares dos curiosos que passam pela praça da Cantareira,
o projeto, em si, já existe há algum tempo. Acontecendo em São Francisco e
organizada por Nissin, integrante do grupo "Oriente", a roda foi
morrendo aos poucos e, após agonizar por um tempo, acabou por encerrar as
atividades, calando as vozes que ali se levantavam. As dificuldades enfrentadas
passam também pelo frágil cenário musical niteroiense. Apesar de conhecidos
músicos terem saído da cidade (um exemplo dentro do próprio rap é Black Alien,
músico integrante da banda Planet Hemp, uma das mais importantes da década de
90 e que tinha também como integrante Marcelo D2), os músicos enfrentam
dificuldades e muito acabam por encurtar suas carreiras.
"Nós últimos tempos, Niterói se encontra numa
carência desses movimentos e organizações culturais onde as pessoas podem vir e
participar da forma que quiserem, desde que seja para somar. Devido a essa
necessidade cultural, Nissin veio com a ótima ideia de começar uma nova roda.
Mas agora localizada na Praça da Cantareira, local de extremo potencial
cultural. Abracei a ideia de primeira. Como o Nissin, acredito que por falta de
tempo devido ao seu sucesso no grupo, não poderia mais organizar a roda, eu,
inconscientemente, terminei ficando responsável por este cargo de organização e
divulgação", explica Mikimba, que vem tentando criar um espaço para
novos músicos se destacarem sem precisar migrar para outros locais
Quadros sendo feitos durante a realização da roda |
"Niterói sempre teve excelentes músicos, mas se destacar aqui é difícil. São poucas as condições, casas de shows e eventos culturais que abrem espaço
para bandas independentes. Tanto é que tem sido uma tatica sair de
Niterói pra fazer o nome no Rio de Janeiro, ou em estados que tem uma cena
cultural mais ampla, como no sul ou São Paulo para depois voltar com o nome fortificado. É assim que a galera de Niterói
tem 'voltado' reconhecida", explica, lembrando de nomes da cidade que marcaram o cenário
cultural nacional. "Niterói é terra de
grandes artistas na cena do rap, assim como o Gustavo Ribeiro (Black Alien),
Ramon Moreno (De Leve), Cláudio Márcio (SpeedFreaks), e Rodrigo Vieira
(Marechal) , fortes representantes do rap carioca. Atualmente o nome mais marcante é o Oriente, que traz junto aos seus trabalhos
a galera da SSM, que engloba o Caixa Baixa e o Sem Miséria."
Na cabeça de quem
está presente, somando força com os presentes, um artista que não trabalha com
as batidas e rimas, Ian Medella, um dos apoiadores da roda, expõe seus quadros
no cenário da roda. Além disso, o evento tem a sua cara. Ele é o responsável
pelo quadro que, atualmente, é a arte ilustrativa da divulgação do evento.
Mandou muito bem irmão!!
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